“Quando eu era pequena, tinha uma lancheira rosa linda, com o Bozo na frente – ar melancólico – então, minha mãe, que sempre se preocupava com nossa alimentação, colocava nela suco, saladas de frutas, queijo e um ovo cozido... e eu tinha que comer tudo...”
“Um ovo cozido??? Como assim um ovo cozido?”
“Sim, um ovo cozido, com casca e tudo... Eu sentava, quebrava a casca e comia. Era conhecida como a Menina do Ovo - ???? – Mas, eu estava cansada de comidas saudáveis... eu queria aqueles salgadinhos cheirando a bacon, vendidos em sacos plásticos, com gosto de isopor; desejava aqueles sucos quentes e melecados cheio de corantes que meus colegas bebiam; Havia uma menina gorda e horrorosa que se chamava Stefani Melissa. Ela tinha a lancheira dos meus sonhos: grande e amarela, com um patinho com gravatinha azul na frente. Eu sempre adorava vê-la abrindo a lancheira... sanduíches cheios de maionese, presunto e queijo; bolachas recheadas de chocolate e morango; bombons de uva que, quando ela mordia, escorria o leite condensado pelo canto da boca... E sabe o que ela tinha na garrafinha? REFRIGERANTE... – aumentou o tom de voz - Incrível, não consigo esquecer aquelas cenas... Ninguém gostava da Stefani... Foi quando eu tive a grande idéia: Falava para os outros da minha sala: Você quer trocar sua bolacha recheada por essa minha salgada e sem gosto?; É claro que eles diziam não... mas, eu argumentava: Então você vai ficar gordo e feio como a Stefani Melissa, comendo essas porcarias...; Incrível, na hora eles trocavam... A partir deste dia, eu trocava toda a minha lancheira saudável por deliciosas guloseimas... Imagina, cheguei ao ponto de trocar até o ovo??? Ainda bem que eu nunca tive tendência para engordar... senão, seria eu e a Stefani... Já te contei como arranquei a pele do rosto de uma menina por causa de um bambolê? Você lembra do bambolê?”
“Sim – respondi estupefacto – mas, não sabia que usavam como arma...”
“Era aula de Educação Física... Fui pegar o último bambolê e uma menina segurou ao mesmo tempo. Eu disse: Larga, que é meu... senão eu vou te arrancar a cara...; Ela riu e duvidou de mim. Cumpri o que eu disse: Pulei e, com minhas unhas, arranhei o rosto dela... Saiu sangue. Ela começou a chorar e gritar, enquanto eu rodava com o bambolê... Como eu adorava brincar com ele... Bons tempos aqueles não???”
***
“Garçom... por favor... mais uma tequila! Urgente.”
