sexta-feira, 30 de julho de 2010

Elevadores... Caixas Sociais

Ontem saindo do elevador da Pós Graduação comecei a pensar em um fator relevante: Você pode identificar o grau de sociabilidade de uma pessoa no interior de um elevador... Quantas vezes você já entrou naquela minúscula caixa de metal escaldante e ela ficou gélida em alguns segundos quando alguém entrou e nem olhou para os lados? Comigo: milhões de vezes. É um gesto estranho as portas se abrirem como no programa "A Porta da Esperança" do Sílvio Santos – sim, estou ficando velho, pode pensar – e você se deparar com uma pessoa que nunca viu antes, olhá-la diretamente nos olhos e... não saber o que fazer...

Opção: a) Você sorri, mas não mostra os dentes... apenas aquela abertura labial igual ao Coringa do Batman; b) Abre a boca como um ventríloquo e diz um oi acanhado; c) Simplesmente ignora – principalmente se a pessoa possuir uma estética não muito agradável – traduzindo: feia;

Agora, vamos piorar a situação? – lembre-se: tudo na vida pode piorar – Você está com pressa, o seu carro já está quase levando uma multa e você torce orgasmicamente – não sei se existe esta palavra... senão, eu acabei de inventar - contando os números em ordem decrescente para o elevador chegar rápido. Quando a música divina toca – pimmm – você fixa o olhar na porta e quando ela abre...

***

Bem... como o “pão de pobre cai sempre com a manteiga para baixo” – ditado popular – o elevador está lotado, só tem espaço para mais um e a feição das pessoas faz seu estômago revirar... Aliás, não sei porque alguns diretores de filmes Hollywoodianos gastam milhares de dólares em maquiagem para filmes de terror... Existem pessoas que assumiriam muito bem o papel sem máscaras...

Você entra... é enfrentar o inferno ou uma multa de trânsito... então, vamos abraçar o capeta. Ninguém faz nenhum gesto cordial e ainda te olham com desdém, por você, reles mortal, encostar em divindades perfeitas moralmente e fisicamente. É como se fosse um bando de Pastores Alemães - aqueles cachorros altos, fortes e com pose de modelo francesa canina – olhando para um mini vira-lata. Você ainda ensaia um “desculpa”... mas fica com vergonha de pronunciá-lo... Isso sem falar se existe algum tarado que começa a roçar a perna ou o braço em alguma mulher com aquele ar de prazer cafajeste ou aquela senhora com cabelo cheirando a laquê que deixa você vendo a Aurora Boreal quando sai...

Mas, às vezes é bom sonhar... Quando acontece comigo essa situação de pânico, rapidamente eu imagino as portas se abrindo, eu entrando e o David Beckham sentado em uma cadeira veneziana, com uma camisa social branca... os primeiros botões abertos e a gravata frouxa, ao lado – e espremido por falta de espaço – um garçom estourando a champagne... Ele me olha e diz com sotaque: “Porque você demorou tanto?...”

... nesse momento, de êxtase visual que eu estava dentro do elevador da Pós, uma menina baixinha e gordinha – estou usando diminutivo para ser politicamente correto – pisou no meu pé e me trouxe novamente para a realidade... mas ela foi educada e pediu desculpas... com os dentes todos tortos.

... ah, o garçom é lindo também!!!


Foto: David Beckham - hypercool - wordpress - Campanha Armani

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Um zíper aberto...

De segunda a sexta-feira vou ao mesmo supermercado - às 11h da manhã - para comprar salada fresca para meu almoço... Sim, quando estamos chegando perto dos 30 anos uma força cósmica e incontrolável faz com que nosso conceito de "alimentação saudável" mude. No mesmo conceito: o protetor solar não sai mais da bolsa e as dezenas de drinks alcóolicos dão lugar para uma bebida que anuncia a maturidade: um saboroso chá... (e se você quiser acompanhar a moda, pode ser chá verde, branco, vermelho, amarelo e, agora, até rosa)

Entre maços de rúcula, agrião e alguns tipos de alface, enxerguei algo que prendeu minha atenção: um homem estava escolhendo algumas frutas, com o zíper da calça totalmente aberto, detalhe importante: um pedaço da cueca listrada de azul royal e azul bebê aparecia. Fiquei em transe com aquele pequeno pedaço de tecido... Quando saí do tupor visual, vi que não era apenas eu que estava em transe: uma senhora que estava escolhendo abobrinhas - inclusive com uma na mão - olhava fixamente para o zíper aberto na expectativa de que algo fosse pular lá de dentro. O homem, seguia tranquilo, observando maças e caquis...

Foi quando fiquei naquele impasse: eu aviso ou não aviso? viro as costas com a rúcula nas mãos ou, educadamente, aviso o homem que ele tem mau gosto excessivo para cuecas? Aprendi um ponto importante na minha vida: quando estamos em um impasse como esse, fica difícil decidir o que fazer. Exemplo: Quando você vê o namorado de sua amiga com outro, você conta ou não? Nesses casos, desenvolvi uma fórmula própria: faço aquilo que eu gostaria que fizessem para mim. Então, fui ao encontro do Homem-cueca...

Cheguei discretamente olhando e analisando um brócolis e falei: "Bom dia, por favor, não fique constrangido mas... gostaria de infomar que seu zíper está aberto..." O homem olhou para calça, fechou o zíper com um ímpeto agressivo, olhou para mim como um judeu olharia para Hitler, jogou as maças na cesta, virou as costas e foi embora, resmungando em alto e bom som... Todos olharam para mim como se eu tivesse acabado de cometer a maior gafe do século...

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Alguém pode me dizer se a sonda PHOENIX - que chegou em Marte esta semana - levou junto à boa educação das pessoas? Será que vivemos em uma era de agressividade obsessiva, aonde a bandeira serão cuecas de listras de gosto duvidoso??? Bem, comigo a corrente do bem não foi quebrada... Fiz minha parte. E creio que é esse o lema para o mundo hoje: FAZER NOSSA PARTE. Pensamos muito em coletivo e deixamos de lado o nosso dever... Se o outro não fez, deixe a Teoria do Caos resolver...

A Senhora que estava olhando me olhou com um gesto cândido... mas ainda estou tentando saber se este olhar foi uma reprovação - pois estraguei a expectativa dela - ou se foi de obrigado...

... ah, e minha salada estava ótima!!!


Imagem - Fonte: Chrysaliis

terça-feira, 27 de julho de 2010

A Aliança...

É impressionante como alguns fatos que percebemos mudam nossa concepção sobre um comportamento. Por exemplo: Eu estava parado dentro do carro esperando uma amiga para um daqueles café sem pretensões. Com óculos escuros, eu olhava para fora sem nenhum foco visual. De repente vi, através do retrovisor esquerdo, um homem que vinha caminhando pela calçada. Um belo exemplo do sexo masculino... com certeza. Óculos escuros, camisa cinza, calça jeans justa... sim, um belo exemplo.

Pelo modo que caminhava - com força e elegância - se construiu a imagem mental: excelente marido, ótimo companheiro, ouve boa música, aprecia um bom vinho, ... a cena de um jantar em um restaurante igual aqueles bistrôs londrinos rapidamente veio, juntamente com a expressão dele olhando nos olhos e dizendo como ele era "o homem mais feliz do mundo"... Após uma noite romântica, o doce despertar, igual a filmes italianos: roçando meus olhos e ele entrando no quarto, apenas com uma calça de pijamas listradas, dizendo que NOSSO café estava pronto... Aqueles passos dentro do quarto transmitiam uma canção que poderia curar um enfermo, devido a paz que proporcionava. Leveza: seu cabelo voava naquele dia de sol, com uma brisa suave. Seus dedos foram até os lábios e passaram levemente em sua boca. Êxtase puro...

Sonho distante... Novamente eu era um adolescente, que escreve diário e cola a embalagem de um doce na agenda, com a legenda: Hoje, ele me deu um bombom... rapidamente a vida vem como um rolo compressor e nos trás rapidamente para a realidade adulta em questão de segundos - aliás, eu já tenho "quase" 30 anos e ela PRECISA fazer isso... - Quando ele estava passando ao lado da minha janela, com um movimento rápido, ele tirou a mão esquerda do bolso e retirou a aliança do dedo e guardou no bolso da calça.

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Este gesto foi como um choque térmico em meus pensamentos românticos. Aquele homem que imaginei a alguns instantes sendo a mistura de Collin Farrel com o príncipe da Branca de Neve se tornou um Ogro em um piscar de olhos. Ele estava indo em direção ao Shopping e deixou o compromisso para trás como um mero detalhe. É isso que sempre fazemos: sonhamos de forma errada! Jogamos nossas expectativas de felicidade em cima de alguém que jamais poderá ter as qualidades suficientes para realizá-las. Como já diria meu amigo BOB MARLEY: "Às vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas... O tempo passa e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!"


Imagem - Fonte: http://iranbernardes.files.wordpress.com/2009/05/alianca.jpg