quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Todos os dias, pela manhã, eu tomava café em um estabelecimento... Café divino, bolachas maravilhosas e um cookie de aveia fenomenal. E - mania de brasileiro - marcava em um “caderninho” minha conta e, no final do mês, quitava minha dívida.... Era mais cômodo do que todos os dias ter dinheiro para pagar minha conta. Às vezes não passava no caixa eletrônico ou acontecia outro imprevisto e eu não poderia ficar sem meu “santo” café pela manhã.

Bem, uma das moças que administra o Café olhou para mim e disse que, devido a mudanças no “sistema de informática” (?) ninguém mais poderia marcar sua conta para pagar depois. Tudo bem: é a administração – pensei – mesmo sabendo que não era culpa do “sistema”. Mas, indiferente, aceitei sem nenhum problema a questão. Então, uma outra pessoa do mesmo estabelecimento fez o seguinte comentário: “Devido a alguns maus pagadores, você que sempre pagou em dia irá sofrer as conseqüências... OS BONS PAGAM PELOS MAUS...”.

***

Como assim “os bons pagam pelos maus”??? Isso foi de extrema indelicadeza comigo, sendo cliente do estabelecimento há algum tempo. Então você: que trabalha todos os dias; paga suas contas – e sabemos como isso é difícil – luta para construir algo; do seu salário se retira uma quantia estratosférica de impostos e você ainda tem que pagar pelos maus???

Não estou falando em relação ao café, ou a conta em questão... isso é simples. É regra não “marcar para pagar depois”, muito bem: aceitamos. Mas, escutar que você, com caráter inquestionável em relação aos seus pagamentos e dívidas terá que pagar por alguém que não honra seus compromissos... simplesmente não dá.

Brigamos por ideologias, por ideais de bons costumes e de solidariedade ao próximo. Sentimos dor e pesar por questões sociais relevantes que denigrem nossos “irmãos” - não de sangue, mas de espécie – sabemos os grandes desafios que o mundo está enfrentando em questões humanitárias e ambientais – e muitas vezes não fazemos nem a nossa parte para contribuir contra esses males – e ainda “pagamos” pelos maus?

Fiz o que alguém – com educação francesa, suíça, alemã, chinesa, japonesa e das ilhas Finji – faria: “Muito obrigado por todos os serviços prestados, o café é realmente delicioso... mas, não irei mais comprar nada neste estabelecimento”. Com os olhos esbugalhados, as pessoas começaram a argumentar... o que foi inútil, pois minha decisão já estava feita. Não poderia mais tomar o café com a mesma devoção de todos os dias anteriores. Senti que, do líquido quente, a fumaça se tornaria a face da pessoa – verde como a bruxa do oeste do Mágico de Oz - dizendo: “Você está pagando pelos maus... Hahahahahahaha...”

O difícil é manter a palavra... é por isso que a grande maioria da humanidade não faz, pois passo todos os dias na frente do estabelecimento, sentindo o cheirinho dos cookies assando... Mas, infinitamente melhor que os cookies é continuar com a sensação que meus princípios não foram quebrados...

E o café do outro estabelecimento da esquina é muito melhor... Só não tem os cookies... bem, minha dieta agradece. Mudança sempre tem seu lado bom: é só conseguir enxergar, por menor que seja...

Foto: Maroma

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